Inteligência colaborativa para o fomento do receptivo
- Mariana Lima
- 16 de dez. de 2014
- 3 min de leitura
Por Mariana Lima
Muitas pessoas, quando pensam na palavra turismo, logo a associam a férias, lazer e descanso. Essa realidade é vivida em diversos ambientes, nos departamentos do poder público, nas associações de classe, na população em geral e até mesmo nas universidades. É comum, nos cursos de turismo, a discussão sobre o dia a dia de uma agencia de viagens emissiva, sobre os códigos das operadoras aéreas, sobre resorts e hotéis à beira-mar.
Essa é uma questão cultural, principalmente brasileira, que precisa mudar. O turismo emissivo é sim importante, mas ele não define a atividade turística. Enquanto essa modalidade “envia” as pessoas para fora, a receptiva as recebe, o que gera movimentação na cadeia produtiva do destino.
O fluxo circular de renda na economia de uma cidade poderia, de forma simplificada, ser descrito da seguinte maneira: as empresas (unidades produtivas) geram o mercado de produtos (bens e serviços), que abastece as famílias (consumidores), que oferta mão de obra para o mercado de fatores de produção (mercado de trabalho). Esse é o ciclo econômico natural de um destino, mas como ele ficaria com a entrada de divisas dos turistas na cidade?
Em outras palavras, o que acontece no fluxo de renda dos destinos é a entrada de divisa adicional, ou seja, um reforço na economia local, tanto no comércio de bens e serviços quanto nos caixas do poder público em função dos impostos arrecadados. Se esse dinheiro adicional fosse percebido positivamente tanto pelo poder público quanto pelo privado, sem dúvida o turismo receptivo entraria no planejamento estratégico de destinos.
No entanto, essa constatação não acontece devido à falta de investimento, principalmente, em pesquisas e diagnósticos. Se o poder público promove um evento na cidade e traz inúmeros visitantes, mas não mensura quanto os mesmos gastaram na cidade, o que se tem no final é a conta do evento e, por isso, a impressão de gasto, e não de investimento. Informações consolidadas podem propiciar credibilidade ao setor, comprovando a importância e o retorno que o mesmo traz, o que se traduz em maior segurança para os investidores e, consequentemente, mais investimentos para a cidade, com uma mensuração real dos empregos gerados direta e indiretamente.
Atualmente, não há dados de quanto o turismo movimenta no Produto Interno Bruto (PIB) dos destinos. Ter um cálculo efetivo dos impostos gerados é um fator fundamental para demonstrar o valor e a importância do setor. Afinal, de quem é a responsabilidade de fazer esse levantamento econômico? Da iniciativa privada ou dos órgãos de turismo? De todos os envolvidos. A cadeia de hotéis deve levantar as taxas de ocupação e permanência; os restaurantes, os gastos dos visitantes; o comércio, o volume de vendas; os centros de convenções, o número de eventos; o poder público, os impostos arrecadados, e por aí vai.
Sem definição clara da responsabilidade de cada ator, não há pesquisa e não há análise e, portanto, não há investimento. A falta de percepção da importância do turismo receptivo e do planejamento em longo prazo ocasiona ações isoladas e, com elas, não existe sinergia ou visão de objetivo comum que gere retorno. O turismo tem baixa visibilidade e pouca influência política em função da ausência de integração e atuação conjunta. É importante que cada ator faça sua parte de forma que o destino faça um trabalho de inteligência colaborativa para geração de valor e de maximização dos resultados.
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