Pode entrar, a casa é sua!
- Mariana Lima
- 12 de jun. de 2014
- 5 min de leitura
Uma reflexão sobre a importância de sermos patriotas e recebermos bem nossos visitantes
Por Mariana Lima
Sim, eu me envergonho da corrupção, dos gastos públicos desenfreados, da eterna falta de planejamento, do jeitinho que damos para tudo, mesmo sabendo que muitas vezes é errado! Fico envergonhada de ver amigas professoras ganhando pouco, da minha avó sendo atendida no corredor do hospital, de pagar taxas e impostos exorbitantes que deveriam ser destinados a esses setores! É triste pensar que amo política, mas que não sei em quem votar, porque temo que as coisas piorem.
Sim, o Brasil tem muitos problemas e tem que mudar! Não tenho dúvidas que as manifestações estão aí, porque o povo brasileiro está cansado de ver todos os dias essas questões se repetindo. Concordo que temos que lutar pelos nossos direitos, temos pessoas instruídas no país e sabemos o que é melhor para o nosso país.
Essas lutas devem ir para as ruas? Sim, mas tem que ser no dia a dia. Quantas reuniões de câmaras e conselhos públicos têm um mínimo de participação popular? Quantas vezes já discuti com amigos que, ao invés de reclamar de tudo, temos que ir para as instâncias governamentais e propor projetos, ações e nos comprometer com isso. São nesses momentos que temos condições de cobrar e propor! É nesse momento que estamos mudando as coisas! Isso pode não ter um grade impacto inicialmente, mas cada um tem que fazer sua parte! E muitas pessoas não fazem no momento certo.
Tive a oportunidade de ir à Europa esse ano duas vezes a trabalho. E sabe o que percebi? Que outros países têm muitos problemas como nós. Somos um país relativamente novo e estamos aprendendo a lidar com as nossas próprias questões, o que é normal. Vi na Itália um trânsito desorganizado e muito barulhento e senti saudades de algumas regras de trânsito do Brasil. Vi na França as diferenças culturais quanto à prática da limpeza corporal e quanto à manipulação dos alimentos e pensei que me sentia mais segura no Brasil quanto a essas questões.
Vi na Alemanha as marcas das guerras, do sofrimento e do horror que aconteceu por ali. Fiquei triste por todas as histórias e lembrei que muitas outras histórias também aconteceram em outros países. Os índios nos Estados Unidos, as lutas pelo poder na África, o fanatismo religioso no oriente e muitas outras. Pensei em como alguns alemães com quem conversei se sentiam crucificados, mesmo não tendo participado dos horrores, e em quantas outras histórias não aconteceram em outros países, mas que ninguém falava tanto a respeito.
Senti-me perdida em várias cidades pela má sinalização turística e vi que no Brasil era a mesma coisa, mas que tínhamos a preocupação de melhorar. Temos projetos sendo estruturados nesse sentido. Conheci os famosos trens e metrôs que ligam todas as regiões dentro das cidades e que ligam um país a outro. E tive o sonho de que o Brasil chegue a esse nível um dia! Acredito que esse dia irá chegar!
Enquanto estava fora, comparei meu país a outros por diversas vezes! Isso é natural! Quando retornei, conversei com vários amigos e ouvi o mesmo discurso: “Você viu o quanto os outros países são melhores que o Brasil? Não dá vontade de mudar lá pra fora? O Brasil é péssimo”! Isso me chateia muito! Não consigo entender a falta de patriotismo no meu país. Vejo alguns termos como complexo de vira-lata e falta de alto estima do brasileiro e infelizmente tenho que concordar. Sei que temos problemas, muitos problemas! Mas os outros também têm! As mesmas dificuldades ou dificuldades diferentes, mas têm dificuldades.
Amo meu país! E o trato como a minha própria casa, minha própria família! Sei que sou classe média e que nunca passei por diversas dificuldades que outros vivem todos os dias. Mas isso não me impede de lutar pelo meu país. Pelo contrário! É por acreditar que a economia do nosso país pode melhorar, e que isso pode favorecer todos os brasileiros, que mantenho minha luta tanto pessoal quanto nos conselhos e câmaras que participo.
Sobre a Copa do Mundo, sou contra diversas estratégias definidas (se é que podemos chamar de estratégias) sobre a construção de tantos estádios e sobre gastos públicos desnecessários. Sou contra a corrupção e fico extremamente decepcionada quanto à oportunidade que estamos perdendo. Oportunidade sim! Quem trabalha com captação de eventos sabe a importância de receber eventos no país. Vivem diariamente longos processos de captação e lutam com diversos outros países por essa oportunidade. Isso porque é extremamente importante para a economia a entrada de recursos de outros países!
Acredito no turismo receptivo e muitos outros países também, pois a vinda de turistas gera retorno à cidade que ele visita! Não é atoa que temos tantas feiras internacionais atraindo visitantes para seus países! Não é interessante para outros países falarem bem do Brasil. É mais lucrativo incentivarem que os brasileiros saiam daqui e gastem seu dinheiro lá fora. É por isso que todos os jornais internacionais que leio destacam todos os aspectos negativos do Brasil! Eles não têm nada a ganhar falando bem!
O que não podemos é entrar no coro, externar para todos que o Brasil é um “lixo” e que os visitantes não devem vir! O fato de recebermos megaeventos não significa que o retorno será imediato, não significa que os investimentos feitos são para 30 dias. Receber um megaevento diz a outros donos de eventos que o país tem condições de receber outros eventos também! Que o Brasil não é só selva e índios! Que temos mata, índios e uma diversidade cultural incrível. Mas que também temos hotéis, comércio, gastronomia de qualidade e tecnologia de ponta! Sou turismóloga, acredito na minha profissão e acredito principalmente no desenvolvimento econômico que a minha atividade traz.
Não. Não entrarei no coro fora Copa! Quero receber bem os visitantes assim como fui recebida pela maioria das pessoas em outros países que tive a oportunidade de conhecer. Eu jamais gostaria de chegar nesses países e ser mal recebida, sentir medo, sentir que não sou bem vinda! Eu jamais farei isso com essas pessoas. Vou recebê-las bem e convidá-las a voltar com amigos e familiares. Minhas portas estão abertas, como uma boa mineira que sou.
Quando recebo alguém na minha casa, faço de tudo para que se sintam bem. Não tem algo mais desagradável que visitar outra pessoa e ser obrigado a presenciar uma briga. Se sentir fora de lugar, sentir que não é bem vindo! Questões internas devem ser discutidas internamente e não com o resto do mundo! Resto do mundo esse que, no fundo, está torcendo para que o Brasil (que já incomoda pelo crescimento econômico dos últimos anos) não dê conta de realizar qualquer megaevento.
Nós temos que cuidar do que é nosso! Eu não vou deixar de lutar pelos meus direitos, vou continuar indo a todas as reuniões com o poder público e vou continuar brigando pelo que acho correto. Vou lutar por ações que beneficiem a todos e não alguns! Enfim, vou tentar fazer minha parte.
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